Você é o visitante...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A vaguidão específica

- Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.

- Junto com as outras?
- Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
- Sim, senhora. Olha, o homem está aí.
- Aquele de quando choveu?
- Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
- Que é que você disse a ele?
- Eu disse pra ele continuar.
- Ele já começou?
- Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
- É bom?
- Mais ou menos. O outro parecia mais capaz.
- Você trouxe tudo pra cima?
- Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou pra deixar até a véspera.
- Mas traga. Na ocasião, nós descemos tudo de novo. É melhor senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
- Está bem, vou ver como...

(Millor Fernandes in "30 anos de mim mesmo")

Esse texto falou muito forte em mim quando o conheci... Havia passado por algo muito marcante, horas antes. Só nós dois sabíamos sobre o que falávamos:

- Ainda...
- É... Ainda?
- [O silêncio falou por ele, e o arrepio que me trouxe, trouxe de volta toda aquela vida que sonhamos viver mas trancamos dentro dos nossos corações, tão moralistas na época.]

P.S. Obrigada, querido... Pelo seu cheiro doce de passado, de um dos poucos pedaços do passado que eu teria mudado se pudesse. Mesmo assim, não dói saber que não fizemos diferente. Seu cheiro de passado pode, ainda, ser transformado numa alegria presente e numa vida futura. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário