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sexta-feira, 26 de março de 2010

RETORNO

A liberdade de poder sair por aí e fazer o que quiser trás à boca, imediatamente, o gosto prazeroso do domínio próprio. Todos nós já nutrimos fascínio por ter o controle sobre nosso destino, mas, cedo ou tarde, sempre descobrimos que todo esse desejo não passa de ilusão. Saímos pelo mundo atraídos por prazeres efêmeros, decidimo-nos por gastar cada "centavo de vida" que nos foi confiado... E, depois de um tempo, quando o encanto acaba, quando o prazer morre, nos vimos vazios! Não nos resta outra alternativa: VOLTAR!! Eu precisei me sentir sozinha, precisei ser agredida e passar por traições para perceber que era chegada a hora de retornar aos braços do Pai. Sempre tive incentivo para formar minha base espiritual de maneira correta, mas vinha caminhando longe de ser um modelo a seguir. Tinha orientações muito boas, sabia como ajudar as outras pessoas, dava conselhos... Mas não tinha moral pra isso! Hoje, depois de muito apanhar, estou "chegando lá" (PALAVRAS DE MEU PAI). Saber que temos um lar sempre de portas abertas à nossa espera é simplesmente maravilhoso, seja espiritual ou carnalmente falando. Carnalmente, posso dar destaque ao dia de hoje! Fiz uma das viagens mais marcantes de minha vida, com certeza... Fomos visitar um santuário e distribuir donativos às famílias necessitadas em Pesqueira, numa aldeia indígena. A distância e o isolamento do local eram tão grandes que nenhuma das operadoras de telefonia celular davam "sinais de vida". Sem celular, mas com muitas outras coisas mil vezes mais interessantes para desfrutar... O caminho até o Santuário de Nossa Senhora das Graças consistia em rampas íngremes a um nível desconfortabilíssimo e escadarias que quase não tinham fim. Mas quem disse que eu reclamei? Quem reclamaria tendo a mãozinha que eu tive? Pois é... Conheci um menino índio que não me largou nem dois minutos, pra minha sorte, claro! Subimos e descemos juntos, conversando, cantando, rindo... Ele me contou sobre os rituais indígenas que o povo dele ainda realiza, contou a história do colar que estava usando e que tinha como pingente um dente de cavalo, cantou uma música sobre Tupã... Eu falava pouco, sabe? Me deixei tomar pela alegria de ver aqueles olhinhos inocentes brilhando a cada palavra dita... Em meio a tantas pessoas amargas, e até brutas, por conta da vida em condições difíceis que levam, esquecidas pelo sistema do nosso país, havia alguém especial: Jailson Xukuru, índio amarelo de 19 anos, que trabalhava e sorria, sorria e trabalhava, e me dava a mão, me soltava, acariciava rãs e voltava à minha mão... E eu ali, ouvindo, sorrindo, achando tudo lindo! Ai, foi um dia mágico... Ter a alegria de voltar pra casa é muito bom, mas eu confesso que passaria um mês lá, de experiência, tranqüilamente! Fiquei curiosíssima pra conhecer os rituais, outras histórias, a rotina das pessoas, enfim. Além das crianças, que me chamaram muita atenção, principalmente quando receberam os brinquedos que a gente levou, Jailson foi a pessoa que mais me prendeu àquilo tudo que eu deixei pra trás. Me conhecendo e conhecendo o padrão comportamental da maioria dos meninos de 19 anos, eu me senti desvendando uma incógnita gigantesca, mas fascinante! Índio... Você foi doce, gentil e sábio... Muito mais que boa parte dos homens que, na prática, se arrastam aos seus pés em matéria de amor. Amor, sim! Porque o seu brilho nos olhos cheio de pureza, suas frases tão inocentes quanto uma criança que acabara de nascer, sua afinidade com os bichos do mato, e seu prazer em falar de Tupã, nada mais são que a maior prova do amor que talvez você nem saiba que carrega no peito... Inteira e merecidamente, A Jailson Xukuru e seu encantador cheiro de terra, Dedico o post de hoje!

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