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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

CARNAVAL

Voltei de viagem. Aquela viela das Malvinas já me conhece há exatos três carnavais... Pensando no primeiro deles, olho para a pessoa que eu era e me vejo menos pura, mais errada e errante, hoje. Tudo era festa... Eu era, sem saber, personagem de um sonho que acabaria da pior forma possível, e isso porque, no início, eram mil mares que nos separavam mas, no carnaval passado, descobri que nossa distância havia se tornado quase que infinita: Suas mãos sujas de sangue talvez tenham nos segregado para sempre... Nesta última viagem, pois bem, procurei deixar meu coração em casa, esquecer por instantes que a minha vida existia. No começo eu até consegui, mas já esperava uma brincadeira do destino "pra mostrar quem é que manda". Foi o que aconteceu! Existe alguém, além daquele primeiro alguém e além da viela, que me conheceu e me conhece muito mais do que eu imaginava ser possível... Nesse carnaval, eu fiz muito mais que trocar saliva: Descobri (Ou descobriram) novos pontos fracos tanto físicos quanto psicológicos. Se eu fechar os olhos ouvindo aquela música, ainda consigo sentir aquele cheiro e aquele gosto [esquisitos] que eu soube suportar MUITO BEM CALADA. Lembrar de tudo isso, agora, poderia ser tão doce quanto o pirulito POP que eu trouxe de lá, porque ganhei, e não vou comer... Mas não é! Me martirizar fazendo a comparação entre aquele olhar em chamas, somado àquelas novidades [PRA MIM, SÓ] que me embriagavam, e aquela voz indiferente ao telefone falando com um homem (O HOMEM ERA EU... QUE MERDA!) é imensamente desagradável. Por outro lado, posso afirmar que, mais uma vez, cresci como pessoa, como ser humano e sensível. O meu lado mãe falou muito, mas, muito alto mesmo! Naquela rua simples, onde o chão era areia fina misturada a muita sujeira, existia um mundo paralelo ao meu mundo, paralelo à realidade: O mundo encantado da INOCÊNCIA! Uma porção muitissíssimo generosa de crianças que brincavam desprezando sua pobreza, suas marcas de trabalho, agressão e falta de perspectiva. Eram a coisa mais linda do mundo correndo pela areia descalços, de cabelo assanhado e só de calcinha/cueca... Me senti a criatura mais feliz do universo atraindo a atenção de todos eles enquanto, sentada no degrau de casa, cantava tudo o que eu sabia de música infantil. Aqueles olhinhos pequenininhos ali brilhando, aquelas vozes estridentes misturadas nos meus ouvidos... Foi simplesmente surreal! Como boa futura professora que sou, não deixei de ensinar alguma coisa, por mais boba que tenha sido. Foi assim: Eu vi uma das meninas com um dos filhotinhos da cadela que, recentemente, dera cria, nos braços e achei até bonita, a cena, até ver o cachorrinho lambendo o rosto dela inteiro enquanto ela se matava de rir... (ECA!) Daí eu falei que era errado se deixar lamber (usando expressão mais clara e facilitada, lógico) e vi aquela criaturinha com menos da metade do meu tamanho me fitando com uma interrogação na testa franzida. Antes de ouvir qualquer coisa que ela tivesse pensado em dizer, chamei-a para perto de mim e todas as outras crianças vieram junto. Minha explicação: - Vocês sabiam que tem um bichinho no cachorro que é bem pequenininho, tão pequenininho que a gente nem consegue ver, e que, se a gente não tomar cuidado, ele deixa a gente dodói? Daí ninguém respondeu nada... Aff! Mas eu continuei: - Vocês sabem qual é o nome desse bichinho? Talvez eu preferisse não ouvir resposta nenhuma, outra vez, caso previsse o que escutaria: - Pulga! - Não pessoal... É beeeeeemmmmm menor! - Pulguinha? - Não... Calma, calma! O nome desse bichinho é um pouquinho complicado, mas eu ensino, tá? - TÁÁÁ!! - É assim, ó: Mi-cró-bio! Gente, saiu de tudo que vocês imaginarem, menos "micróbio"! Algumas tentativas: *ME COBRE *MICÓBRIO *MICÓBREO *MICRÓBRIO ... 'Tava difícil! Mas, aí, eu tive um idéia "brilhante"... Idéia: - Galerinha, quando a gente come salgadinho novo ele faz um barulhinho, não faz? - FAAAZZZ!! - Qual é? Novamente o silêncio tomou conta daqueles lindos, mas eu continuei... - Assim, ó, minha gente: "Cró-Cró-Cró..." Agora vocês, vai, qual é o barulho do salgadinho? Deu certo! Em poucos minutos todos tinham conseguido dizer o nome do tal bichinho bem pequenininho que tinha na língüa do cachorro, com exceção de uma das meninas, Carol... Provavelmente tinha algum problema de dicção ou, sei lá... Conseguia falar o "micró", mas na hora de dizer a palavra inteira não saía nem que desse a pau! Daí, o que eu fiz foi ficar treinando as sílabas separadas devagar e depois ficava aumentando a velocidade, pra ver até onde ela ia: - Vai, vai... MI - Mi - Cró - Có - Cadê o salgadinho? - Eita, Cró (Rindo pra se acabar) - Bio - Beo - Não, titia, com "i": Bio - Bíííoo - De novo: Micró - Micró - Bio - Bio - Micróbrio! - Micóbreo! - Não, não, Carol... Devagar, vamo': Micró - Micró - Bio - Bio - Micró-bio - Micróbrio! - QUASE!! - Micóbreo! Oxe, oxe... Eu sei não, Lú! Não teve jeito! AFF¹²³ Mas, sabe... Essa menina foi a que mais conversou comigo, toda carinhoisa, linda... E INOCENTE! A maior parte das crianças de lá, inclusive Carol, mesmo tendo seus seis, oito, DEZ anos, poucos sabe dos assuntos de uma escola... Todos os que tiveram contato com o "conhecimento científico" sabiam apenas escrever seu nome completo. Falam disso com um orgulho que me comove sempre que lembro... Como uma criança de dez anos sabe apenas escrever seu próprio nome?? Nessas horas é que sinto vergonha do meu país... Fora a tristeza de querer mudar tudo e não ter força suficiente, coisamuitíssimo decepcionante. Mas, voltando ao ponto original, continuei falando sobre o micróbio, as doenças e ensinei como limpar a boca quando ela fosse lambida pelos bichinhos de estimação. Como esta é uma questão completamente prática, não dá pra teorizar, escrever aqui o modo como expliquei... Vocês terão de imaginar! Mas, devo admitir, me senti hilária esfregando o lugar sujo com meu "sabonete imaginário"... As crianças tinham entre 5 e 11 anos. Eu sentia que estava sendo entendida por todas elas, então, antes de deixá-las de volta à sua brincadeira, que eu havia interrompido, decidi "pedir uma coisa muito séria": Que, quando eles ficassem grandinhos, procurassem uma escola, que estdassem pra conseguir um serviço bom e ajudar seus pais... Todos foram carinhosos comigo, mas Carol, bom... Ficou no meu braço por um tempo enquanto os outros brincavam e só depois se junou a eles fazendo com que tudo voltasse ao normal. Hoje, tendo voltado daquele universo tão distante da bolha em que eu sempre vivi, percebi que sou mais cientificamente preparada que muita gente, só que menos empiricamente experiente que o suficiente pra não ser magoada. Fui professora para crianças que pouco sabiam da vida aqui fora e aluna para um homem que encontrou um mundo novo dentro de mim e o colocou nas minhas mãos, algo que foi além da traição que cometi sem querer e do gosto amargo esquisito que ficou dentro do enorme nó na minha garganta. Começou como o pirulito POP e terminou como a dor de perder o chão no qual nunca se pisou, de fato... E se um dia alguém perguntar onde foi parar meu anel, eu vou responder: "ELE ESTÁ NO LUGAR ONDE O DURANTE SUPEROU O FINAL!" Agradeço a todas as pessoas que me ensinaram boas coisas nesses dias em que estive fora: André, Ilma, Carol, Náthaly, Natália, Max, Gabi, Luíza, Kelly, Duda, Júnior, Fabiana, Manoel, Dulcineida, Aylla, minha mãe SEMPRE** e, por último e não menos importante, agradeço ao seu cheiro, seu gosto, suas novidades e à mágoa que provocou... Tudo, mesmo a dor, me ensinou infinitas vezes mais do que eu teria sido capaz de aprender vivendo a minha vida. Cada um de vocês terá sempre um lugar no meu coração e na minha memória, todos serão lembrados como parte de um grande momento, de uma grande lição! Amo...

4 comentários:

  1. amiga agradeça o dom q você tem de entender todos.
    acredito bastante q na vida temos um proposito e a sua e ajudar e entender pessoas que precisam de uma palavra de conforto ou até uma explicação como você fez com as crianças confesso que eu não teria tanta paciencia como você adimoro muito a forma de você expressar as suas ideias de forma clara pra todos entender...

    beijos de sua amiga LAURINHA

    e quero que vc saiba q sempre fuia a sua fã desde do monteiroo..

    pena mas não to terminando por akiii

    by: laurinha

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  2. E se eu te disser que não precisei de paciência pra conversar com as crianças?
    Só o fato de vê-las prestando atenção às coisas que eu 'tava falando, apesar de ser tudo bobagem no mundo deles, já deixava tudo mais leve... Foi um momento incrível na minha vida!
    E sobre você ser minha fã... Amiga, não é pra tanto! Mas, assim mesmo, agradeço o carinho com que você sempre age comigo.
    Embora eu realmente não mereça todos os seus elogios, preciso dizer que é exatamente por isso que eu te amo: por me aceitar e pensar em mim dessa forma tão bonita, desprezando a minha montanha de defeitos!

    Beijo, linda♥
    by Lúh**

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  3. Bom primeiro oi Lú, se assim posso lhe chamar... Sou irmã de Paulo César amigo+irmão do seu tio Manoel... E caminhando pelo orkut dele tive a curiosidade de olhar o seu, e me despertar pra ler seu blog.
    Nossa me identifiquei de cara com vc por gostar tanto de criança, e ser uma educadora cheia de sonhos e esperanças de um mundo melhor.
    Sou formada em Pedagogia e rumos me levaram a trabalhar em ONGs onde pude viverciar de perto a desigualdade social, a carência de oportunidades, a falta de educação e informação.
    Quantas vezes parei no tempo pra me fazer a seguinte pergunta. Será que fiz a escolha certa da minha profissão??? Hoje se me fizessem essa pergunta respondeiria sem titubiar: Escolhi minha profissão por Amor ... Tornei-me o que sou por amor...
    E por gostar tanto de criança tá no sangue, meu coração pulsava com o desejo de um dia ser mãe, mas por ironia do destino, pega de surpresa meu sonho foi engolido de uma hora pra outra... Bom em outro momento te conto, afinal esse blog é seu e não meu kkkk
    Deu pra perceber que também gosto de escrever que a razão como todos falam devia falar mais alto, mas eu sou mais coração... Bjos!!! De uma nova amiga tô por aqui pra gente trocar figurinhas e te passar um pouco das minhas experiências na arte da educação... E como dizia o Educador Paulo Freire "Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo".
    E finalizo com Cora Coralina "'Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina".

    Não desista dos seus sonhos!!!
    Boas Vibrações!!!

    Rosana Freitas

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  4. Que felicidade saber que tem mais alguém acompanhando o conteúdo do meu blog...
    Muito obrigada por ter paciência de ler! (A maior reclamação de boa parte das pessoas é a preguiça que dá quando se vê o tamanho dos meus posts)
    Pode me chamar como quiser, querida...
    Adorei receber sua visita e o seu comentário tão bacana!
    Às vezes me enchem o saco dizendo que sou sonhadora em demasia... Mas não importa! Minha única certeza é a de que, quando não mais houver gente como a gente, que se preocupa com o futuro dos outros, que sonha e luta por mudanças, o mundo perderá a graça e a razão!

    Meu enorme beijo...
    Lú**

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